Uso do rotativo cresce 108% com pandemia, e juros chegam a 1.000%

No último trimestre, o Brasil foi abalado por um crescimento exponencial na utilização do crédito rotativo, uma modalidade de financiamento conhecida por ser a mais cara do país. Especialmente entre as comunidades de baixa renda, o uso dessa forma de crédito mais que dobrou nos últimos três anos. Os dados divulgados pelo Banco Central apontam para um aumento alarmante de 108% no endividamento entre junho de 2020 e o mesmo mês deste ano, totalizando uma cifra preocupante de R$ 30,2 bilhões. Com taxas médias de juros anuais superiores a 437%, chegando até a quase 1.000% em algumas instituições financeiras, é evidente que algo precisa ser feito para resolver essa situação.

Os consumidores se encontram presos nesse ciclo vicioso de dívida rotativa quando optam por efetuar o pagamento apenas parcial da fatura do cartão de crédito dentro do prazo estabelecido. Essa dívida emergencial atingiu recordes alarmantes em maio com uma taxa inadimplência recorde de 53%, que atualmente encontra-se em 49%. Diante desse cenário caótico e visando evitar possíveis regulamentações governamentais semelhantes ao limite imposto às tarifas por descoberto (atualmente limitado a 8% ao mês), os bancos têm pressionado por negociações rápidas com varejistas e empresas do setor.

Diversos fatores são responsáveis pelo aumento exorbitante da dívida rotativa. Especialistas apontam desde o impacto devastador da pandemia nos orçamentos familiares até a facilitação da obtenção de cartões de crédito e acesso facilitado a esse tipo de empréstimo, combinado à falta de educação financeira. Ione Amorim, coordenadora do Programa de Serviços Financeiros do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), destaca: “Muitas pessoas, especialmente aquelas que trabalham informalmente, enfrentaram períodos de perda de renda durante a pandemia”. Diante das limitadas alternativas disponíveis, as famílias de baixa renda recorrem a linhas de crédito desprovidas de garantias com taxas muito mais altas. Embora a ampla oferta de cartões de crédito atenda às suas necessidades, ela também vem acompanhada das maiores taxas do mercado.

A proliferação no número de concorrentes no mercado dos cartões de crédito também tem contribuído para um aumento significativo na utilização do crédito rotativo. Segundo dados divulgados pelo Banco Central, 20 milhões de pessoas tiveram acesso a um ou mais cartões entre 2019 e 2022. Essa expansão é vista como positiva no que concerne à inclusão financeira, porém o risco potencial é elevar ainda mais o nível endividamento familiar. O Banco Central já emitiu alertas sobre esse aumento nas emissões, especialmente pelas instituições digitais e conexões com o varejo.

Ricardo Vieira, vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas e Serviços com Cartão (Abecs), afirma que a Abecs está elaborando uma proposta contendo medidas que poderiam contribuir para a redução das taxas de juros do crédito rotativo.

A falta de educação financeira também se mostra no cerne do problema do aumento da dívida rotativa. Ione Amorim, do Idec, destaca que alguns consumidores utilizam seus cartões de crédito para pagar despesas cotidianas e “acomplementar” a renda mensal. Ao efetuar a compra, os consumidores avaliam se conseguem arcar com as parcelas, mas ignoram completamente as altas taxas de juros envolvidas. Os especialistas também chamam atenção para a ausência de um planejamento financeiro em longo prazo, optando por adquirir bens diretamente ao invés de recorrer às parcelas.

Relatório: O aumento alarmante da dívida de cartão de crédito rotativo no Brasil
No último trimestre, o Brasil foi abalado por um crescimento exponencial na utilização do crédito rotativo, uma modalidade de financiamento conhecida por ser a mais cara do país.
O uso do crédito rotativo mais que dobrou nos últimos três anos, especialmente entre as comunidades de baixa renda.
Aumento alarmante de 108% no endividamento entre junho de 2020 e o mesmo mês deste ano, totalizando R$ 30,2 bilhões.
Taxas médias de juros anuais superiores a 437%, chegando até quase 1.000% em algumas instituições financeiras.
Dívida emergencial atingiu taxa de inadimplência recorde de 53% em maio, atualmente em 49%.
Bancos pressionam por negociações rápidas com varejistas e empresas para evitar regulamentações governamentais.
Fatores responsáveis pelo aumento da dívida rotativa incluem impacto da pandemia nos orçamentos familiares, facilidade de obtenção de cartões de crédito e falta de educação financeira.
Expansão no número de cartões de crédito emitidos, com 20 milhões de pessoas tendo acesso a um ou mais cartões entre 2019 e 2022.
Associação Brasileira das Empresas e Serviços com Cartão (Abecs) elaborando proposta para redução das taxas de juros do crédito rotativo.
Falta de educação financeira leva consumidores a utilizar cartões de crédito para pagar despesas cotidianas e ignorar as altas taxas de juros envolvidas.

Com informações do site InfoMoney.

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